
Enquanto a lua se punha em seu posto, uma neblina fina emergia do horizonte, envolvendo os pés do monte por detrás das casinhas espalhadas no final do bairro. Os verdes e azuis tomavam um tom severo, mas junto às luzes brancas se tornavam leves. Todo o arredor era, como na maioria das situações, muito calmo. Nenhuma diferença grande o bastante para chamar a atenção. A não ser pelos muros altos e seus telhados, cinzas e sufocantes. Esses eram terríveis, engoliam o céu quase por inteiro. Quase, felizmente.
Era bonito, aquele lugar. Apesar de todo o resto. Pensou que, se por milagrosa mágica apagasse todos os registros passados, não seria mais fácil abraçar de novo aquele pedaço de mundo. Talvez até se enraizar ali para sempre, como sonhava em um desejo infantil já apodrecido há muito. A admiração existia, mas durava pouco: cada rua atravessada se tornava mais estreita que a anterior, cada bougainvillea e trompete dourado que desabrochava nas calçadas e quintais só o fazia junto de velhas assombrações; chamas invisíveis que roubavam o ar, bloqueavam as esquinas.
Talvez fosse melhor dessa forma. Talvez a atmosfera lhe expulsando de toda e cada parte fosse para seu próprio bem. Se do contrário encontrasse sossego ali, seria às custas do próprio coração, da própria lembrança, tão nova e inexplorada que sequer sabia como a carregar, manusear, como a nomear.
Respirou fundo, como se pudesse guardar aquele anoitecer nos pulmões. Como se respirasse por dois.
I could try to translate it (and I did) but this time it keeps turning into something different, so I'm just gonna leave it like that.
Take care of yourself always ♡